19 de setembro de 2010

Infrator

Paródia do Poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade

INFRATOR

E agora infrator?
Você se perdeu,
No freio pisou,
Mas não adiantou
E o carro bateu.
E agora Infrator?
E agora você?
Você que é adulto,
Que é cidadão,
Você que é saudável,
A vida, preserva?
E agora infrator?

Está sem razão,
Está sem moral,
Está com vergonha.
Já não pode olhar,
Já não pode lembrar,
Chorar, já não pode.
Seu filho sofreu,
O cinto, não tinha,
Cadeirinha, não tinha,
Segurança, não tinha,
Não tinha juízo.
E tudo acabou,
A lei, infringiu
E seu filho pagou.
E agora infrator?

E agora infrator?
Sua doce palavra,
Seu carinho e afeto,
Sua atitude de pai,
Sua dedicação,
Sua falta de cuidado,
Seu mau exemplo,
Sua imprudência,
Sua culpa – E agora?

Com o filho nos braços,
Quer vê-lo brincar,
Mas ele não brinca.
Quer vê-lo sorrir,
Mas sorrir, já não pode,
Quer que o tempo volte,
Mas o tempo não volta.
Infrator, e agora?

Se você agisse,
Se você quisesse,
Se você usasse
O equipamento de segurança.
Se você parasse,
Se você pensasse
Na vida da criança.
Mas você não pensa,
Você é imprudente, infrator!

Sozinho, sem rumo,
Qual “bicho-homem”,
Sem explicação,
Sem motivo algum
Para justificar.
Desesperado, você acorda
E suspira aliviado.
Foi um pesadelo, infrator!
Infrator, até quando?

Colaboração: Irene Rios da Silva (autora)

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